domingo, 11 de setembro de 2011

Distribuição geográfica da água incluindo os conceitos de hidrografia

A água existente em nosso planeta é abundante, e seu volume praticamente não varia há centenas de milhões de anos; no entanto, ao problema do uso desordenado e da degradação dos mananciais vêm se somar duas questões: a facilidade – ou não – de acesso a essa água e a sua distribuição espacial.
     Atualmente somos mais de 6 bilhões de pessoas no planeta, e teríamos para consumo – descartando-se os custosos processos de dessalinização – 2,5% da água existente, que é a água doce. No entanto, tratando-se da água doce, para cada litro considerado de fácil acesso existem cerca de 350 litros de difícil acesso, por estarem, por exemplo, situados nas geleiras polares. Ainda assim, a água doce é considerada abundante.
     Adotando-se uma perspectiva global, verifica-se que nada menos do que 60% da água doce de fácil acesso encontra-se em 9 países, enquanto – em um outro extremo – 80 países precisam enfrentar níveis variados de escassez. Nessa mesma linha, calcula-se que uma minoria de pessoas esteja consumindo a maior parte da água existente no planeta (86%). Enquanto isso, para nada menos do que 1,4 bilhão de pessoas a água é insuficiente; e para 2 bilhões ela não é tratada. Esse quadro explica porque 85% dos casos de doenças registrados são de veiculação hídrica.
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     O Brasil possui, sozinho, cerca de 12% da água doce superficial do planeta, sendo considerado um país rico em termos hídricos. No entanto, ele também enfrenta problemas relacionados com a distribuição espacial: nada menos do que 70% do volume da sua água é encontrado na Amazônia; cerca de 15% situam-se no Centro-Oeste. Modestos 6% estão no Sul e 6% no Sudeste, e ínfimos 3% restam para o Nordeste1. Esta última região é a que mais sofre com a escassez; no entanto, outras regiões começaram, nos últimos anos, a apresentar sérios problemas de abastecimento, relacionados principalmente com a qualidade da água. Não basta existir água em quantidade suficiente, é preciso também que ela seja de qualidade.
     Além do mais, o crescimento da população – tanto o crescimento vegetativo quanto aquele causado pelas migrações – não levou em conta critérios relacionados com a disponibilidade de água e com a sua qualidade. Portanto, regiões com escassez hídrica passaram a contar com contingentes populacionais expressivos, reduzindo a disponibilidade per capita; o mesmo ocorreu em regiões com problemas de qualidade.
     Os processos de ocupação das cidades transcorreram da mesma forma. Em 1970, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontou que o Brasil tinha 55,9% da sua população vivendo em cidades. Em 2000, o mesmo órgão indicou que esse percentual subira para 81,1%.
     A tabela abaixo apresenta a população residente em cada uma das 12 regiões hidrográficas brasileiras, expressa em milhões de habitantes, bem como a vazão média por habitante. A vazão média por habitante indica o volume de água em metros cúbicos que, em média, estaria disponível para cada habitante da região, ao longo de todo um ano.
É importante lembrar que essa água precisa atender a todos os usos, não se destinando apenas ao abastecimento humano. Calcula-se que 70% do consumo mundial de água se destina à irrigação, 20% à indústria e apenas 10% ao abastecimento humano

     Conforme já mencionado, a concentração populacional em áreas com baixa disponibilidade hídrica ou com problemas de qualidade agrava um cenário que já é adverso. Enquanto na Região Hidrográfica Amazônica, por exemplo, temos 2 hab/km², na Região Hidrográfica Atlântico Sudeste as densidades demográficas são várias vezes maiores. Na área metropolitana do Rio de Janeiro ela ultrapassa os 3.000 hab/Km², chegando a 12.835 hab./Km² no município de São João de Meriti2. Por outro lado, regiões com grandes extensões de terra e considerável disponibilidade hídrica são as que possuem menor contingente populacional – e, logo, a menor densidade demográfica. É o caso da Região Hidrográfica Amazônica, já citada, e também da Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia.
     Esta concentração populacional nas cidades é uma tendência seguida por todas as regiões, com a exceção da região hidrográfica do Parnaíba, que conta com 16,4 milhões de pessoas em áreas rurais. As regiões hidrográficas do Atlântico Sudeste e do Paraná são exemplos de como o crescimento de grandes centros urbanos tem gerado pressão sobre os recursos hídricos. O aumento das demandas implica não só a diminuição da disponibilidade, mas também – pela incúria generalizada – sérios problemas de qualidade, com a contaminação das águas por efluentes domésticos, industriais e pela drenagem urbana. Cenários críticos ocorrem quando uma elevada densidade populacional é associada à baixa disponibilidade hídrica, caso de algumas regiões no Nordeste e Sudeste do país.
     Dessa forma, podemos concluir que sim, temos água. O problema está na sua localização e nas concentrações populacionais em regiões com baixa disponibilidade hídrica. São milhões de pessoas no Nordeste – onde o clima, as formações rochosas e os solos não colaboram para o armazenamento da água; são milhões no Centro-Sul do país, região com condições mais favoráveis do que o Nordeste, mas com um contingente populacional que demanda muitos serviços e que conta com intensa atividade industrial e mineral, o que vem causando a exaustão dos recursos naturais existentes – inclusive a água

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